terça-feira, 14 de outubro de 2008

A Incrível Viagem de Shackleton, Alfred Lansing...

Acabei de ler o livro que conta a famosa viagem de Shackleton, com certeza o melhor que já li, uma lição de liderança, organização e coragem.
O escritor Alfred Lansing reconstitui, em 1959, uma das mais extraordinárias aventuras de todos os tempos, acontecida entre 1914 e 1917. A partir de documentos e entrevistas com sobreviventes, ele descreve de forma absolutamente envolvente, a saga de aventura, resistência e sobrevivência de Sir Ernest Shackleton e de seus 27 companheiros que tinham como objetivo cruzar o continente antártico, passando pelo Polo Sul.
O livro, originalmente lançado em 1959 com o título Endurance, Shackleton´s Incredible Voyage, teve a sua edição no Brasil apenas em 2004, publicada pela Sextante e com tradução de Sérgio Flaksman. Nele é contada a história da Expedição Imperial Trans-Antártica, organizada por Shackleton em 1914, pouco antes da Primeira Guerra Mundial.
A Expedição, sob o comando de Shackleton, um irlândes irriquieto, sonhador e audacioso, e que havia sido um daqueles poucos homens que haviam sonhado em ser os primeiros a pisar no Pólo, deixou Londres no mês de agosto de 1914, retornando apenas em 1917, depois de incríveis aventuras, demonstrações de liderança, de coragem, de solidariedade e amizade, e de capacidade de sobrevivência, que ficaram registradas de forma indelével nos anais de expedições, aventuras e navegação.
Shackleton havia participado da expedição de Scott de 1901-1904, mas teve que voltar à Inglaterra por razões de saúde. Organizou outra expedição para chegar ao Pólo Sul, em 1908-1909, mas, novamente, não conseguiu cumprir o seu intento, chegando a cerca de 150 quilômetros de seu objetivo. Finalmente, depois de planejamento meticuloso, organizou outra expedição, aquela que deveria chegar ao Pólo Sul cruzando por terra a Antártida: a Expedição Imperial Trans-Antártica.
Shackleton e os membros da expedição, que incluia navegadores, pilotos, maquinistas, médicos, meteorologistas, marinheiros e um geólogo, um físico, um biólogo, um desenhista e um fotógrafo, partiu de Londres no dia 1o. de agosto e chegou na Geórgia do Sul, na ponta extrema da América do Sul, além das Ilhas Falkland, nos primeiros dias de dezembro de 1914. A partida de seu navio, o agora famoso "Endurance", em razão dessa epopéia, para a "incrível jornada", ocorreu no dia 5 de dezembro do mesmo ano. Navegaram pelo Atlântico Sul, passando pelas Ilhas Sandwich do Sul, cruzaram o Círculo Antártico e se viram aprisionados, no dia 18 de janeiro de 1915, por um banco de gelo, já na Baía Vahsel, no Mar de Weddel, a apenas um dia do ponto de desembarque planejado.
Este evento, o banco de gelo, é o prenúncio de grandes problemas que surgirão à frente e o início de uma epopéia que se desenrolará nos meses seguintes. Apesar do "Endurance" ter sido construído especialmente para a navegação em condições polares, ele não conseguiu superar o rigor do inverno inclemente, de forma diferente dos homens, que resistiram bravamente.
Depois de vários meses preso no banco de gelo compacto, e que ficou à deriva durante meses, o degêlo da primavera só fez piorar a situação e o "Endurance" acabou sendo esmagado como uma casca de noz pela pressão fortíssima dos grandes blocos de gelo despreendidos do banco e acabou naufragando no dia 27 de outubro de 1915.
A partir daqui, toda a tripulação inicia uma marcha de sobrevivência pelas banquisas de gelo. Acampados em condições precarríssimas na banquisa, tendo apenas parte das provisões e equipamentos, iniciam um período de quase 6 meses à deriva no Mar de Wendell, depois de tentativas infrutíferas de chegar a pé até o continente.
Nova decisão crucial teve que ser tomada no dia 9 de abril de 1916: três pequenos botes salva-vidas são lançados ao mar para que com eles, chegassem todos ao continente na esperança de encontrar baleeiros.Com as correntes marítimas e o mar turbulento da região, com tempestades fortes acontecendo quase que diuturnamente, a idéia precisou ser abortada rapidamente e todos fundearam, depois de alguns dias, na Ilha Elefante, em pleno Mar de Weddel.
Uma nova decisão, que representava a vida ou a morte de todos teve que ser tomada em seguida. Permanecendo na Ilha, era mais do que provável que todos morressem em poucos dias ou semanas. Por essa razão, Shackleton, demonstrando uma incrível liderança, e mais cinco companheiros, instalados no barco "James Caird", decidem procurar ajuda, tentando chegar novamente à Geórgia doSul, de onde haviam partido meses antes.
Partem, então, no dia 24 de abril, nesse pequeno barco de 22 pés de comprimento ("míseros" 7,2 metros), para uma viagem de aproximadamente 1.500 quilômetros, a fim de buscar ajuda para aqueles companheiros (22 deles) que permaneceriam na Ilha Elefante. Conseguem, com muito esforço, vontade e uma boa dose de sorte, chegar a seu destino apenas no dia 10 de março de 1916, exatos 522 dias depois de terem partido de lá, surpreendendo a pequena colônia de pescadores ali residentes, que acreditava que eles deveriam estar todos mortos já há muito tempo.
Se haviam chegado sãos e salvos até ali e até agora, a preocupação angustiante que tinham a partir desse momento, era a de iniciar o retorno numa expedição de salvamento dos companheiros que haviam ficado na Ilha Elefante. Em razão do tempo e da necessidade de barcos resistentes, só conseguiram sair de lá no dia 18 de maio de 1916.
A viagem de volta foi mais do que angustiante. A expedição, agora de apenas três homens, planejada para fazer o resgate por terra foi cansativa, exaustiva e massacrante em termos físicos. Shackleton seguia sempre na frente, imprimindo um ritmo forte à caminhada. O mapa que tinham em mãos era impreciso e incompleto.Só havia a costa da Geórgia do Sul e nada mais. O interior era o que se via continuamente: tudo estava em branco. O objetivo definido era o de chegar até a estação baleeira, alguns quilômetros adiante, para tentar conseguir um navio baleeiro para chegar, de volta, à Ilha Elefante (mas antes disso, ainda fazer o resgate dos 3 outros companheiros que haviam ficado num acampamento provisório).
O primeiro salvamento ocorreu sem incidentes de monta. Os três retidos no acampamento provisório chegaram sãos e salvos no dia 22 de maio, depois de serem resgatados por um baleeiro.
A segunda parte do salvamento, os homens deixados na Ilha Elefante, ainda demorou quase 5 meses, com várias tentativas abortadas e que trouxeram muita frustração. Somente conseguiu-se chegar na Ilha Elefante no dia 30 de agosto de 1916, surpreendendo de maneira estonteante aqueles 22 homens remanescentes de uma expedição frustrada. De maneira absolutamente incrível todos os 28 homens, sãos e salvos, mas com marcas que serão recordadas por toda a vida, retornam a Londres no prenúncio de um novo ano: 1917!
Por essa epopéia e por sua capacidade de liderança, Shackleton é tido como um dos maiores líderes que já surgiu.

Um comentário:

Veleiro Joe II disse...

dae brother muito bom o livro...!!
eu ja vi o seu barco... esta na marina ali em porto belo neh... eu possuo uma poita em porto belo e moro em meia praia!!!!
nos falamos
bons ventos